
ATAFONA: MEIO SÉCULO DE SOFRIMENTO AMBIENTAL
Por Pedro Henrique Serpa Francisco¹ - Rio de Janeiro/RJ
Há cinco décadas, o distrito de Atafona, situado no município de São João da Barra, no norte do estado do Rio de Janeiro, convive com um fenômeno que vem alterando profundamente a paisagem da localidade. Um processo severo de erosão costeira tem provocado a destruição de centenas de residências, transformando a vida no local, que se constituiu originalmente como uma vila de pescadores, atraídos pela posição vantajosa junto à foz do rio Paraíba do Sul e ao Oceano Atlântico. Ao longo do século XX, moradores de outros municípios perceberam as qualidades da praia de Atafona, levando ao estabelecimento da localidade como um importante balneário, atraindo um grande contingente populacional e promovendo a rápida expansão do distrito.
Na década de 1950, foram constatados os primeiros sinais de erosão, com a diminuição da faixa de areia da praia, antes extensa. Em menos de duas décadas, o processo erosivo alcançou as primeiras casas e alguns bares localizados no Pontal, área mais próxima à foz do rio e majoritariamente habitada por pescadores. Desde então, a erosão tem deixado marcas profundas ao longo de toda a orla de Atafona, fazendo com que os moradores tenham de deixar suas casas, provocando um cenário de abandono e destruição massivas, chamando a atenção de pesquisadores, jornalistas e muitas outras pessoas no Brasil e pelo mundo.
Ao longo de minha pesquisa sobre os impactos do processo erosivo para a população de Atafona, é possível constatar que existe uma situação de sofrimento ambiental marcante no local. A insegurança ocasionada pela continuidade e imprevisibilidade do fenômeno da erosão costeira, a perda material provocada pela destruição das casas e a visão do cenário de destruição, sempre presente, fazem surgir o sofrimento ambiental entre os moradores da localidade, e devido à negligência do poder público, não existem perspectivas concretas de que essa situação irá se alterar em breve.
¹Pedro Henrique Serpa Francisco – Estudante de graduação em Geografia/UFRJ e membro do Núcleo de Pesquisas em Geografia Ambiental e Ecologia Política (GAEP).