UM CRIME CONTINUADO

14/04/2024

por Sérgio Papagaio¹ - Barra Longa/MG

O derramamento de rejeito da barragem de Fundão iniciado fisicamente em 05/11/2015, trouxe a morte, levando no ato do rompimento 19 vidas e impedindo uma de vir a luz, este crime continuado tem vitimado milhões de pessoas ao longo da bacia do Rio Doce, senão por morte física, por perda dos propósito de se viver.

O crime da Samarco e de suas mantenedoras, Vale e BHP Billiton, não foi simplesmente um rompimento de barragem que derramou mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeito e lama na maior e mais importante bacia hidrográfica do sudeste brasileiro. Mas também o maior crime ambiental do Brasil e um dos maiores do mundo, contaminado rios, terra, mar e toda a vida em seu entorno, mudando modos ancestrais de vida de inúmeras comunidades tradicionais, de modo a vida nunca mais voltar a ser como era. Contribuindo com isso para uma dor que age no íntimo das pessoas atingidas, disseminando toxinas que provocam dor e doenças. No ato de toda as contrariedades relativas a essas mazelas, traz a morte pra viver entre nós como se fosse gente de casa e a fome tem sido o prato principal servido as mesas de muito das pessoas atingidas, justamente na hora do almoço.

Há mais de 8 anos da maior tragédia ambiental do Brasil, reparação é uma palavra muito falada e pouco praticada. Isso tem potencializado este crime que está longe de ser solucionado. Primeiro, parece que as mineradoras tem ódio dos atingidos e atingidas e, segundo, porque a criação da Fundação Renova parece servir de boi de piranhas das Mineradoras responsáveis pelo crime – Vale e BHP Billiton donas da Samarco – fazendo uma cortina de fumaça e desviando a atenção dos verdadeiros culpados. Estes têm protelado um crime onde o réu diz quem tem direito de ser reparado criando e potencializando assim a certeza de um crime continuado, onde muitas vezes a justiça tem sido usada para se cometer crimes dentro da lei, pois em muitos dos casos é a raposa que é responsável para fazer a reparação do galinheiro.

A barragem dorme as noites para romper novamente todos os dias ao amanhecer.


¹ Sérgio Papagaio é editor - chefe do Jornal A Sirene 

Observatório UFRJ - UERJ de Injustiça Ambiental
Todos os direitos reservados 2024
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora