
UM CRIME CONTINUADO
por Sérgio Papagaio¹ - Barra Longa/MG
O derramamento de rejeito da barragem de Fundão iniciado fisicamente em 05/11/2015, trouxe a morte, levando no ato do rompimento 19 vidas e impedindo uma de vir a luz, este crime continuado tem vitimado milhões de pessoas ao longo da bacia do Rio Doce, senão por morte física, por perda dos propósito de se viver.
O crime da Samarco e de suas mantenedoras, Vale e BHP Billiton, não foi simplesmente um rompimento de barragem que derramou mais de 50 milhões de metros cúbicos de rejeito e lama na maior e mais importante bacia hidrográfica do sudeste brasileiro. Mas também o maior crime ambiental do Brasil e um dos maiores do mundo, contaminado rios, terra, mar e toda a vida em seu entorno, mudando modos ancestrais de vida de inúmeras comunidades tradicionais, de modo a vida nunca mais voltar a ser como era. Contribuindo com isso para uma dor que age no íntimo das pessoas atingidas, disseminando toxinas que provocam dor e doenças. No ato de toda as contrariedades relativas a essas mazelas, traz a morte pra viver entre nós como se fosse gente de casa e a fome tem sido o prato principal servido as mesas de muito das pessoas atingidas, justamente na hora do almoço.
Há mais de 8 anos da maior
tragédia ambiental do Brasil, reparação é uma palavra muito falada e
pouco praticada. Isso tem potencializado este crime que está longe de ser
solucionado. Primeiro, parece que as mineradoras tem ódio dos atingidos e
atingidas e, segundo, porque a criação da Fundação Renova parece servir
de boi de piranhas das Mineradoras responsáveis pelo crime – Vale e BHP
Billiton donas da Samarco – fazendo uma cortina de fumaça e desviando a atenção
dos verdadeiros culpados. Estes têm protelado um crime onde o réu diz quem tem
direito de ser reparado criando e potencializando assim a certeza de um crime
continuado, onde muitas vezes a justiça tem sido usada para se cometer crimes
dentro da lei, pois em muitos dos casos é a raposa que é responsável para fazer
a reparação do galinheiro.
A barragem dorme as noites para romper novamente todos os dias ao amanhecer.
¹ Sérgio Papagaio é editor - chefe do Jornal A Sirene